O Perdão (Serie: Reflexões Teológicas) — Versão Extendida

Introdução
Aprendemos na lição anterior [1] que o primeiro aspecto essencial à aqueles que fazem a obra social é entender de que de nada adianta fazer o bem, sem amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como à nós mesmos.
Nesta lição avancemos ao fazer uma análise conceitual e bíblica sobre dois aspectos, a semelhança da primeira lição, com o perdão de Deus ao homem e o perdão do homem para com o seu semelhante, em uma breve tentativa de expandir a discussão sobre a obra social.
1. Conceito
É de fundamental importância conceituar o que venha a ser o perdão, do ponto de vista conceitual e bíblico. Do ponto de vista conceitual o perdão pode ser definido como a expressão que se utiliza para pedir desculpas ou ação através da qual uma pessoa está dispensada do cumprimento de um dever ou de uma obrigação. Do ponto de vista bíblico, o perdão trata-se da remissão de pecados, a ação de se livrar de uma culpa, uma ofensa, de uma divida.
Portanto, o perdão é caracterizado como um ato de amor, graça e misericórdia, uma decisão de não guardar em nosso coração qualquer ressentimento contra o outro, independente do que lhe tenham feito. Ato divino de Deus para com o homem e do homem para com o próximo, por amor e capacitação de Deus.
2. Perdão de Deus ao Homem
pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus,
sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus. Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; mas, no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus (Romanos 3:23–26 — NVI-PT)
Em Romanos 3:23–26, nos podemos compreender que todos pecaram e estão destituídos ou afastados da glória de Deus e que a justificação e redenção de nossos pecados, somente por meio de Jesus Cristo, pelo seu sangue, para satisfazer a justiça de Deus.
Foi necessário, o sacrifício definitivo de Cristo, pois somente um cordeiro sem macula podia fazer a expiação pelos pecados da humanidade (João 1:29), pois após o pecado de Adão (Gênesis 3), a morte passou a reinar sobre os homens (Romanos 6:23) e nos afastou de Deus. Portanto, não há perdão, sem sacrifício e sem arrependimento.
2.1. Por que é preciso o perdão ?
Nos é evidente mediante a analise das Sagradas Escrituras que todos necessitamos do perdão de Deus, pois todos pecamos, principalmente contra Deus (Eclesiastes 7:20; 1 João 1:8; Salmos 51:4), por isso precisamos do perdão de Deus, senão passaríamos a eternidade sofrendo as consequências de nossos pecados (Mateus 25:46; João 3:36).
2.2. Como poderemos obter o perdão ?
Nós podemos obter o perdão de nossos pecados por meio de nossa fé em Cristo, reconhecendo-o como nosso SENHOR e Salvador, nos arrependendo de nossos maus caminhos (2 Pedro 3:9; 2 Coríntios 5:21; 1 João 2:2; 1 Coríntios 15:1–28; Romanos 6:23; Efésios 1:7; João 3:16–17).
2.3. É mesmo tão fácil assim ?
Sim, pois o perdão não se merece, não se compra, não se conquista, só podemos recebê-lo mediante a fé em Cristo Jesus, por graça e misericórdia de Deus, temos plena evidência disso em João 3:16–17 (NVI-PT) “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele”.
3. Perdão do Homem para com o seu próximo
Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: “Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? “ Jesus respondeu: “Eu lhe digo: não até sete, mas até setenta vezes sete (Mateus 18:21,22).
Em Mateus 18:21–22, Pedro questiona a Jesus sobre quantas vezes deveria perdoar o seu irmão que pecasse contra ele e coloca um limite, até sete vezes ? No entanto, Cristo coloca uma exemplificação de que o perdão ao próximo é ilimitado, sem guardar ressentimentos. Cristo conclui contando a parábola do credor incompassivo (Mateus 18:23–35), cuja lição é clara, Deus perdoou uma grande divida nossa, por meio de Cristo, por isso devemos perdoar o nosso próximo, além do fato de que sofreremos consequências com a falta de perdão.
3.1. Perdão — O Exercício da Misericórdia
Quando alguém vem em busca de nosso perdão, nos temos o compromisso e a ordenança de Cristo para concedê-lo e estender a misericórdia, que seria deixar de dar o que o individuo de fato merece, independente da gravidade e da quantidade de vezes que o individuo peque (Mateus 18:21–22; Lucas 17:4; Efésios 4:32; Colossenses 3:12–13). O perdão ao próximo é pré-requisito para o perdão de Deus, como a oração do Pai Nosso nos descreve (Mateus 6:14–15; Lucas 11:4; Tiago 2:13).
“ O perdão significativo exige raciocínio e planejamento. É a disposição de buscar novas soluções. O perdão insiste em um novo caminho — nem o seu nem o da outra pessoa, mas um que seja mutuamente aceitável. Você precisa usar palavras que não lancem acusações nem criem contendas (Provérbios 15:23), preocupar-se em buscar o perdão apenas para o seu erro (Salmos 51:1–4) e lembrar que uma atitude perdoadora não se desculpa (Gênesis 3:12), não se defende (Gênesis 3:10) e nem acusa o outro (Gênesis 3:13). Buscar o perdão liberta você para receber misericórdia por meio de um espírito perdoador, traz a benção de Deus e a gratidão de quem recebeu o perdão. Um espírito perdoador traz coisas boas para si próprio (Provérbios 11:17) e para os outros (Lucas 15:23)[2].
Conclusão
“Deus de fato perdoa (Salmos 32:1–5; 103:12; 130:3–4; Isaías 43:25, Jeremias 31:34; Efésios 1:7; Colossenses 1:14; 2:3). Devemos perdoar os outros se não quisermos desobedecer a Deus e quebrar nossa comunhão com ele (Mateus 6:14–15; Marcos 11:25–26; Lucas 17:3–4) […] por isso, precisamos estar dispostos a perdoar a nós mesmos já que somos seres finitos, nossas falhas abrem a porta para a glória de Deus e fornecem o ambiente para nosso próprio crescimento (Filipenses 3:12–14). O amor é o principal elemento do perdão (Provérbios 10:12; Tiago 5:20; 1 Pedro 4:8). […] O perdão começa quando removemos de nossas mentes as ofensas passadas (Filipenses 3:13) e deixamos que Deus nos fale por meio das Escrituras (Salmos 119:157–160), entregando a Deus nossas mágoas (1 Pedro 2:21–23), orando pelo ofensor (1 Samuel 12:23; Mateus 5:44) e servindo como um canal disponível para a graça divina. Deus prometeu que cuidaria de todos os julgamentos, por isso, a vingança não é uma opção (Romanos 12:19–21)”[3].
Se não somos capazes de perdoar a quem nos ofende, como poderemos esperar ser canais de Deus na vida daqueles que mais necessitam ? Se em nosso coração, não habita em plenitude o amor de Deus, como cuidar daqueles que estão completamente feridos e sem o apoio de sua família, que em muitos casos desistiu completamente dele (a) ? Somente quando cumprimos o amor a Deus acima de todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos é que conseguimos perdoar. Em Romanos 12:21 (ARA), lemos o seguinte: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”, por isso enquanto Corpo de Cristo (Romanos 12:3–8), façamos a diferença neste mundo corrompido (Filipenses 2:14–16) e vivamos em amor, perdoando e orando por aqueles que nos perseguem (Mateus-5:43–44).
[1] https://marciovinicius1008.medium.com/amor-a-deus-e-ao-pr%C3%B3ximo-serie-reflex%C3%B5es-teol%C3%B3gicas-e4e93eda67d9
[2] A Bíblia da Mulher: leitura, devocional, estudo. 2ªed., Barueri, SP. Sociedade Bíblica do Brasil, 2009 — pg. 1646.
[3] A Bíblia da Mulher: leitura, devocional, estudo. 2ªed., Barueri, SP. Sociedade Bíblica do Brasil, 2009 — pg. 1646 — com adaptações.